quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Com chave?

Boas!

Finalmente levei as meninas para conhecer a nova casa do Malagô: o Saco da Ribeira.  Saímos de Santos na sexta pela manhã e seguimos sem trânsito algum até Ubatuba. Ficamos até hoje cedo e quatro horas depois, estávamos em casa. Pelo visto as comemorações de carnaval passaram longe do litoral norte de São Paulo. Estranhamente e felizmente, a chuva também. Com exceção de uma garoazinha em uma ou outra madrugada, fez sol todos os dias, ventou e o mar estava incrivelmente baixo. Eu sempre digo que é preciso saber valorizar os dias perfeitos. Eles são poucos e às vezes na correria da vida moderna a gente sequer os reconhece. Esse carnaval foi especial: foram seis dias perfeitos e em sequência.


Meu roteiro faria o Walnei, do veleiro Vivre (ainda travestido de Piano Piano) ter calafrios! Ele, que traçou uma verdadeira romaria pelas praias de Ubatuba no ano novo com seu valente Cruiser 23, ficaria surpreso ao ver que com nosso 40 fomos primeiro só até ali, literalmente: praia do Flamengo, a menos de um quarto de milha da poita!  Mas é isso mesmo, afinal eu sou especialista em ir só até ali - e voltar!

A propósito, o Lauro Valente fez um excelente post em seu blog que tem muito a ver com o que passamos nesse feriado: às vezes os lugares mais legais estão ali, ao alcance das mãos, principalmente quando as pessoas que nos são mais caras e amadas estão  a um palmo ou dois de distância. Claro que viagens longas como o CCS (Cruzeiro Costa Sul, organizado pela ABVC) que o Paulo do magnífico veleiro Bepaluhê está se preparando para ir são momentos ímpares na vida do velejador. Mas o ponto é que não é preciso fazer isso todos os finais de semana para ser feliz no mar!



 Nesses dias fizemos churrasco, mergulhamos, conversamos e dormimos, não necessariamente nessa ordem, tudo meio junto e misturado, alheios a um mundo que se deparava com a seguinte dúvida: ex-Papa participa do conclave?

Quando saímos de Paraty o fundo estava tinindo de limpo. Mas em menos de vinte dias já trazia cracas, algum limo e muitos pólipos - como eu odeio esse negócio! Mergulhei na Ilha Anchieta (o ponto mais distante que nosso "só até ali" permitiu ir) e senti um pouco de saudades do Cusco Baldoso: limpar o fundo de um 23 pés é infinitamente mais fácil do que enfrentar sete metros só de patilhão, a um metro e oitenta de profundidade! Mas missão dada, missão cumprida. Daqui a vinte dias tem mais...


Eu gostei muito da região. Do ponto de vista didático - curso de vela - percebo que ela tem muito potencial, em especial para o tipo de velejador que eu pretendo formar, ou seja um cruzeirista que saiba velejar bem e que não ligue o motor no primeiro perrengue ou calmaria: a) o vento está logo ali e não depois da Ilha do Mantimento (Paraty);  b) o regime de ventos me lembrou muito o da baía de Santos, onde me formei velejador; c) voltar para a base sem o motor é uma possibilidade concreta (ao contrário do que seria no Canal de Bertioga, já que o mar fica a uma boa horinha de navegação do Chinen, às vezes contra uma maré bem forte); d)  além disso, existem lugares lindos para ancorar e dar um mergulho ou, no mínimo, fazer uma refeição com um belo visual (valor que faço questão de agregar ao curso).


É claro que nem tudo são flores. Percebi que existe uma certa bagunça organizada típica de faroeste. Networking, ao que parece, é um "social skill" muito  necessário por lá. Isso por um lado me agrada, pois eu não gosto de paparicação de marinheiros de marina - das minhas coisas cuido eu e isso inclui minha bagagem; mas por outro não gosto de "ter que ter" um marinheiro para conseguir água para os tanques, nem de receber um orçamento (muito) diferente em menos de duas semanas em uma mesma loja ... Enfim, eu já estou nisso há tempo bastante para saber que cada lugar tem seus defeitos e suas virtudes. O importante é que no final, bem feitas as contas, o resultado seja positivo. 

Já estou dominando o Velho Mala. Toquei ele sozinho - no pano mesmo -, enquanto as meninas tagarelavam.. Achava que não seria possível sem o piloto automático, mas assim como o guincho foi só prestar mais atenção no barco. Quando se solta a roda de leme ele mantém o curso por um tempão, o suficiente para colocar o barco em uma orça mais ou menos aceitável. Ah, que prazer foi depois de tanto tempo velejar para lá e para cá, sem destino certo, sem motor, sem quase nada a não ser o vento nas velas e meus amores me mandando beijos lá da proa (onde eu ia, de quando em vez, beijá-las também).

O Mala tem dois jogos de vela completos (mestra, genoas I, II e III e balão). Um desses jogos é de gala, que pertenceu ao Ondina, o mais célebre dos "Brasil", numeral BL 13 e está muito bom. O outro já mais surrado fica para uso diário. Só que o Cesár cometeu um pequena heresia: recortou a esteira da vela mestra (na tesoura!), de forma que a retranca ficasse mais alta. Ela ficou, mas não foi um corte muito feliz e regular a testa da vela mestra tem sido um martírio: a vela fica toda reguladinha, mas uma bolsa teima em se formar logo abaixo da primeira forra de rizo... Outro martírio tem sido o enrolador de genoa, que teima em emperrar (estou quase voltando para os garrunchos). Por fim, ainda tem a novela do tanque de diesel: ele estava sujo e por isso usávamos um tanque auxiliar (nada mais definitivo nessa vida do que as coisas provisórias). Eu dei uma limpada (sem tirá-lo) e liguei novamente. Duas horas depois, puf! Não funcionava mais. De volta ao tanquinho, lá vai ele novamente: toc toc toc.

E vamos no pano mesmo!



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