Boas!
Comprar um barco pode ser considerado difícil. Mas guardá-lo, pode ser mais.
Aqui no litoral de São Paulo a coisa varia muito. Em linhas gerais é possível guardar um veleiro, a partir de 23 pés, com quilha fixa e mastro na casa dos sete metros (o padrão dos oceânicos de entrada) apenas em Guarujá (na região do CING ou na do Canal de Bertioga), Ilhabela e Ubatuba. Não que não haja marinas em outros lugares, como Barra do Una ou Caraguatatuba. Mas é que nessa configuração canais assoreados e pontes no meio do caminho são entraves que impedem que se dê um uso à embarcação, o que pode ser frustrante.
A baía de Santos (Guarujá, pois em Santos não existe uma única marina) é que tem melhor estrutura de serviços, seja para quem é adepto do faça você mesmo, seja para quem gosta de mandar fazer. Há, porém, dois detalhes: o custo e a falta de locais para passeios. Não existe, por exemplo, uma praia abrigada de SW para uma ancoragem livre de preocupações. Não existe dormir fora com tranquilidade. Em geral por aqui o que se faz é apenas velejar, de lá para cá. Por isso as regatas têm força, já que praticamente todo dia venta. Mas as mulheres e crianças podem não gostar muito. As marinas do CING cobram em média R$ 50,00 por pé/mês, apenas para guardaria e não é todo barco que elas aceitam. A predileção pelos grandões fica evidente. A Boreal, no CING, foi a melhor marina que eu já fiquei na vida.
No canal de bertioga, ainda em Guarujá, os preços podem ser melhores do que em Santos. Há opções econômicas, como o Chinen, passando pelas médias como a Tropical, Tchabum e Porto do Sol, indo até as de primeira linha, como as Marinas Nacionais. Os serviços ainda não são tão ruins pois se está perto de Santos. Já a navegação é feita em condições mais especiais. Em geral é o canal ou o mar aberto. Não há meio termo e usa-se muito o motor (para mim isso é um defeito). O aluguel de uma poita no Chinen, para um 23, está na casa dos R$ 600,00 por mês.
Em Ilhabela a coisa deve ser boa apenas para quem é sócio do Pindá ou do Iate Clube. Minha experiência com poitas e seus gestores não é das melhores. Em compensação venta bastante. Aluga-se uma poita, sem serviços, por R$ 400,00 mês.
Em Ubatuba os veleiros adotam o Saco da Ribeira como casa. É possivel, lá, ficar em um clube, como o Iate Clube de Ubatuba, em uma marina, como a Kauai, ou em uma poita prórpia ou alugada. Na minha opinião é ainda o melhor lugar para se aproiveitar um veleiro no estado de São Paulo. Mas nem tudo são flores. Eu sempre digo que por lá reina um clima de faoreste e manter bons vínculos sociais faz bem para o barco. Ser sócio da AUMAR também.O custo final sai igual do de Bertioga. Mas, em compensação, o lugar é lindo. Um helicóptero, porém, faz falta.
Trocando em miúdos a vida de quem tem um pequeno veleiro no nosso litoral é algo entre pagar caro, ficar perto da capital e navegar no lodo e no mangue (não que isso seja necessariamente um defeito, eu mesmo acho o canal de bertioga lindo) ou pagar menos caro, navegar no paraíso, mas antes passar pelo purgatório (ou inferno) da estrada.
Minha dica, depois de tantos anos, é: barcos não têm raízes. São quase semoventes! Em qualquer lugar que você ficar terá ônus e bônus, alegrias e descontentamentos (em especial com os prestadores de serviços). Não fique em um só lugar. Experimente mais de uma opção. Mude de tempos em tempos. Priorize o que lhe é mais iportante naquele momento. Não crie limo. Ubatuba pode ser lindo, mas às vezes ter o barco perto é uma necessidade e ficar dez horas na estrada pode ser aterrador. Porém, outras vezes o barco está tinindo e quer ver água verde e cristalina e navegar com golfinhos na proa. Mude seu probelma de lugar de tempos em tempos. Essa é minha receita para a felicidade náutica.
E vamos no pano mesmo!