quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Travessia Ubatuba Buenos Aires - Soneca - Parte 01 - Arribada forçada

Boas!

Meu professor de direito processual penal, Pedro Garutti, costumava se divertir ao indicar aos alunos que lhe pediam opinião sobre o tema do TCC o assunto "arribada forçada". A graça estava no fato de a bibliografia sobre isso ser extremamente diminuta, o que torna praticamente impossível escrever as mínimas cinquenta páginas exigidas. Confesso que era mais engraçado para ele do que para quem estava na aflição de concluir logo o curso e que nem sabia o que era esse negócio.

A arribada forçada, em português, é a escala não programada do navio em um porto não previsto no plano de navegação, por conta de alguma situação excepcional. O conceito vem no art. 740 do então Código Comercial Brasileiro, que é de 1850 e ainda está vigente nessa parte: "Art. 740. Quando um navio entra por necessidade em algum porto ou lugar distinto dos determinados na viagem a que se propusera, diz-se que fez arribada forçada". Ainda segundo referido Código,  "Art. 741. São causas justas para arribada forçada: 1. Falta de víveres ou aguada; 2. qualquer acidente acontecido à equipagem [tripulação], carga ou navio, que impossibilite este de continuar a navegar; 3. temor fundado de inimigo ou pirata".

Pois foi isso o que aconteceu com o Soneca.

Como planejado nossa trupe zarpou de Ubatuba no dia 25/10/2015, às 15h38. O Tio Spinelli avançou para o lado de fora da Ilhabela, passando entre as ilhas Vitória e Búzios. O mar estava alto, com ondas de dois a três metros e o vento soprava de SE e E, na casa dos vinte nós. O barco ia muito bem, mas parte da equipagem...

O Genésio e o José Eduardo sofreram com o mar aberto. Enjoaram muito e logo ficou claro que eles não iriam conseguir continuar até Floripa.  Assim, às 07h20da manhã do dia 26, quando eles já estavam a quase quarenta milhas da costa e no través de Alcatrazes, o capitão optou por fazer uma arribada forçada e desembarcar os mareados em Guarujá. Havia risco de forte desidratação, com consequências severas. Como estavam muito afastados de terra, a entrada não programada em Santos levou ainda agonizantes doze horas. 




O veleiro foi para o Iate Clube de Santos e, depois, para o Clube Internacional de Regatas. Amanhã de manhã partirão apenas o Tio, o Vitor e a Bruna. A janela de tempo foi perdida e a perna que antes seria sem escalas, agora será feita com pelo menos uma parada em Paranaguá.

Acompanhe e viagem do Soneca clicando AQUI!

E vamos no pano mesmo!



terça-feira, 27 de outubro de 2015

Santos Rio 2015 a bordo do Off Line

Boas!

Após duas largadas anuladas por conta de barcos que queimaram a partida, finalmente o Off Line cruzou o alinhamento entre a Comissão de Regatas - CR e a bóia. Começava a Santos Rio para a gente, às 12h45 de um sábado de céu púmbleo.

Eu fiz parte da tripulação reunida pelo dono do barco, Eduardo Coton, a quem desde já agradeço uma vez mais pela oportunidade e receptividade. Conosco estiveram ainda o Ronei e o Antonio Carlos, donos do veleiro Panda (um Fibramar 34), o Claudio Luiz Gregório (uma lenda viva da vela santista) e o Maurício, que é o marinheiro do Off Line e do Grandpa. Uma tripulação bastante heterogênea em todos os aspectos, mas tranquila quanto ao nosso único obejtivo: completar a prova antes do tempo limite. Nossos adversários seriam nós mesmos, como combinamos antes e como veríamos bem claramente um pouco antes de chegarmos ao Rio.

Conforme o previsto os ventos eram na casa de 15 nós, de  SE. O mar estava baixo e por todo lado havia nuvens de chuva a espreita. Até a Ilha da Moela seguimos mais aterrados, ganhando altura a medida que nos aproximavamos de Ilhabela.

No través de Alcatrazes um problema grave ficou claro: um pote de sardinha sei lá o quê vazou e derramou um líquido oleoso e gosmento que contaminou todo o conteúdo da geladeira. O rancho estava praticamente todo perdido, nos restando apenas bolachas, frutas e demais alimentos que não deixam ninguém feliz por três dias seguidos. Seria uma viagem (ainda mais) longa.Adeus escondidinho de carne seca, adeus macarrão gratinado, adeus comida boa, adeus.

Nós nos afastamos da costa menos do que deveríamos e percebemos isso quando tentamos passar a Ponta do Boi, do lado de fora da Ilhabela. Muitos bordos foram ncessários para vencer o vento contra, até que estávamos atrás da Ilha de Búzios.

Mais uma vez uma sina que tem me perseguido há algum tempo se mostrou viva e presente:  uma certa hora da madrugada eu olho em volta e estão todos dormindo, menos eu - pois alguém tinha que continuar tocando o leme... Ronco aqui, ronco lá... a noite seria longa.

E foi mesmo. Contei os segundos para o dia clarear e então chamei o Maurício, que de noite não pode levar o barco "porque não enxerga no escuro". Com certeza ele deve achar que eu tenho visão infravermelha ou coisa assim. "Eu tenho hipermetropia", se justificava. Coo se eu não tivesse também... Toquei o leme entre 23h00 e 06h00, com exceção do período entre 02h00 e 03h00 em que o Ronei me rendeu e tive uma certa esperança de que ainda havia solidariedade na Terra.

Quando o domingo amanheceu estávamos no través da Ilha da Vitória, já em Ubatuba. Passamos raspando pelo lado de fora dela. Assim que o Maurício assumiu o leme eu deitei do jeito que deu na cabine e dormi por duas horas. Mas alegria de pobre dura pouco, pois às 08h00 havia uma chamada geral onde passaríamos nossa posição e anotaríamos a dos outros barcos. O Gregório era nosso navegador e eu o ajudava nessa tarefa. Como ele é um pouco surdo, literalmente, nessa hora eu tinha que ajudá-lo. Resultado: não dormi mais. 

Como consolo presenciei o Maurício anunciar aos quatro cantos que estava bem e que não enjoava, mesmo que entre uma jura e outra fizesse voar litros de vômito para o mar!

Não dormi mas em compensação  não peguei mais no leme. Pelo menos não até o anoitecer, quando então o estranho fenômeno de os tripulantes irem dormir e me deixarem sozinho se repetiu. Para quem não sabe, eu odeio ficar no leme (Eduardo Coton, note que eu grifei essa parte, ok?!). Deus inventou o piloto automático, o leme de vento e o aluno de vela justamente para  a gente não ter que ficar no leme! Humpf!

Feito esse breve aparte, o fato é que após a Laje da Marambaia, que alcançamos em um bordo único e mais arribado a partir do través da Joatinga (de onde passamos tão distantes que sequer conseguimos ver), o vento aumentou e rondou para E. Foi ai que a prova começou a se tornar uma provação. O mar cresceu. Começamos a fazer longos bordos, bastante torturantes pelo pouco avanço aparente. Depois da Pedra do Sino, em Ilhabela, praticamente demos apenas dois bordos, para ganhar altura perdida com a deriva natural do barco.

Da Laje da Marambaia (onde vimos um golfinho que depois revelou ser um tubarão!) abrimos para o mar e quando voltamos para terra estávamos em Grumari. De lá abrimos novamente e caímos no final da Barra da Tijuca. Ao abrimos de novo nossos problemas ganharam um novo contorno. A corrente contra e o vento se intensificaram e para ajudar um navio patrulha quis chegar tão perto de nós que achei que fosse dar confusão. 

Então, lá fora, bastante amarados, houve uma Assembleia das Nações Unidas feita pelos membros da tripulação e após deliberações sensatas, democraticas, amistosas e cordiais (e em nada influenciadas pela fome, pelo frio, por andar adernado há mais de trinta horas, pela falta de banho há dois dias e mais um par de privações) o resultado foi eu novamente no leme, o Antonio Carlos me contando sobre suas experiências com relações internacionais e o Gregorio vigiando a navegação. Os demais foram dormir. Era pouco mais de meia noite.

Fizemos mais dois bordos bem longos e às 06h00 lá estávamos nós  no Arpoador, com o sol recém nascido e o céu finalmente limpo (vimos muita chuva pelo caminho, mas não pegamos nenhuma gota de água do céu). Eu trazia um sorrisinho no rosto e cantava o Samba do Avião sem parar, eufórico. Já me via cruzando a linha dali a poucos instantes, feliz, contente, vitorioso e ai...

"E ai" que não seria tão simples assim. Mas nem em sonho. Ali terminava uma regata e começava outra: entrar na Guanabara. Chegamos no Arpoador sob um leste de 25 nós. Mas esse  ventão logo tratou de cair  para dez, nove, oito, sete, seis, cinco... pois é. Acabou o vento. O mar virou um espelho. Faltavam ainda sete milhas para a chegada. O pessoal começou a acordar e pensar no filé a Oswaldo Aranha que o Antonio carlos falava o tempo todo.

Para resumir muito uma história longa (mas looooooooonga mesmo!), nós e muitos dos outros trinta barcos da regata levamos oito horas para cruzar a linha de chegada, incluindo um par de horas que perdemos pois ao chegar bem próximo da linha, vindos do Forte Santa Cruz, o vento intermitente acabou de vez e a maré nos empurrou com força para a Ponte Rio Niterói. 

Subimos a baía com uma paciência de Jó, a meio nó (até rimou). E depois de muita luta e esforços hercúleos, ouvimos a buzina pouco depois das 13h00 da segunda, 26/10/2015. Havia acabado! Nós vencemos nós mesmos.

Os aprendizados foram muitos e fazer uma navegada assim sempre nos causa impacto. A primeira coisa que se pensa é que no ano que vem, não faremos mais. Podemos até jurar isso. Mas ai passa um dia, passa outro e então... quem sabe ano que vem de novo, agora para fazer um tempo melhor que o dos outros barcos? Não tem jeito, essa é nossa vida...

E vamos no pano mesmo!

(em breve  fotos, em nova postagem).





quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Ubatuba - Buenos Aires e Santos - Rio

Boas!

No próximo dia 25 de outubro, domingo, o veleiro Soneca, do Capitão José Spinelli Neto dará início a travessia Ubatuba - Buenos Aires.



Spinelli, ou "Tio Spinelli" para os íntimos, é capitão amador e velejador há várias décadas, possuindo vasta experiência em navegação oceânica.  O veleiro Soneca é um Samoa 33 preparado para longas travessias. Foi  construído pelo próprio Tio e já está no Saco da Ribeira pronto para mais essa aventura!

Na tripulação teremos o Vitor , a Bruna , o José Eduardo, o Genésio e o Silvio, alunos de nossa escola de vela.

Faremos o acompanhamento dessa travessia aqui no blog, passando o maior número possível de detalhes.

A primeira perna será Ubatuba - Florianopolis e a previsão para o dia 25/10, data da partida, é bastante favorável: ventos de Leste e Nordeste, acima de dez nós. De Florianópolis, onde dois tripulantes desembarcam (Vitor e Genésio) e outro embarca (Silvio) a trupe parte para o desafiador porto de Rio Grande. Mas o grande desafio mesmo será a entrada no Rio da Prata, prevista para a segunda semana de novembro.

CLIQUE AQUI a partir do dia 25/10 e acompanhe as posições do Soneca em tempo real!

Enquanto isso eu irei enfrentar ventos contrários no veleiro Offline (Wind 34, do Eduardo Coton) em minha primeira Regata Santos - Rio.

O Spot do Offline pode ser acompanhado a partir de 24/10 CLICANDO AQUI!

E vamos no pano mesmo!

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Navegando em braile ...

Boas!

Em parceria com a empresa Brazil Boat Share realizamos mais uma turma de nosso curso básico de vela oceânica, dessa vez a bordo do veleiro Anarquia, um Pantanal 25 de propriedade compartilhada sobre o qual eu já falei aqui antes.

Na tripulação tivemos o casal Rogerio e Alessandra, o Julio e o Rafael, na sexta, e o Felippe, que se juntou ao grupo no sábado. Por conta de uma frente fria as condições estiveram um pouco fora do usual: muitos carneirinhos, chuva, sensação térmica lá embaixo e visibilidade baixa.

No sábado, em especial, as nuvens baixas nos permitiam ver apenas alguns prédios da orla de Santos. De resto havia apenas uma névoa branca e o som dos sinais sonoros dos navios que entravam e saiam do porto mais movimentado do país.

Por segurança conduzimos a aula na altura do ISO Vermelho, que tem boa distância da orla e fica igualmente afastado do canal dos navios. Mantivemos, ainda, a navegação em um eixo Leste-Oeste, sempre em orça e afsatando da orla. Assim ficava mais fácil para o timoneiro se guiar pela agulha magnética, nossa referência visual mais confiável (havia um chartplotter também). Falamos bastante sobre navegação em mau tempo, tomada de rizo e homem ao mar e aquela situação especial dava um certo realismo às explicações.  A tripulação se adaptou muito rapidamente ao barco e os bordos foram muito bem executados, mesmo com ventos acima de 15 nós, ainda resultado da frente. 

Após abordamos na prática a manobra de fundeio - dessa vez fizemos na Praia do Góes e não no Sangava-, resolvi levar os marujos para terra, pois todos estavam muito molhados e alguns com muito frio. Velejar tem que ser divertido, não congelante. 

No dia seguinte havíamos programado a terceira aula do básico, indo até a Ilha da Moela. Mas conversamos e resolvemos adiar para um dia mais ameno. Como bem disso o Julio, deixemos o mau tempo para quando atravessarmos o Drake! A ida à Moela teria sido bem interessante, pois a todos os ingredientes daquela panela foi adicionada uma bela... RESSACA! Culpa do Rafael, aposto.

Agradeço aos meus amigos dessa turma, que se comportaram de maneira exemplar mesmo em condições não muito confortáveis. O excelente moral a bordo ajudou a superar o frio e até me faz esquecer que vez ou outra os cabos ainda eram chamados de corda...

E vamos no pano mesmo!

Galeria:

Rogerio (centro), Alessandra, Juca, Julio e Rafael.

Alessandre a Juca.

Julio e Rafael.



Julio.

O valente Anarquia.




segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Curso de vela na Represa Guarapiranga

Boas!

Durante o mês de setembro nosso instrutor Alexandre Dangas ministrou o curso básico de vela para o Maurilo a bordo do Fast 230 + Bakanna na represa Guarapiranga.  Esse curso é regular e acontece sempre que há interessados. A vantagem é que está dentro da cidade de São Paulo e o regime de ventos é espetacular.

Vejam o que nosso amigo e agora velejador Maurilo achou da experiência:

"Bem, velejar pra mim é outra maneira de se viver, descobri esse ano o que é de fato velejar, entrei no Colégio Naval e logo escolhi a equipe de Vela Oceânica. Que desafio! Aprendi tudo na raça do dia-a-dia como é esse esporte e continuo aprendendo... Tanto que procurei ajuda nessa área e descobri o Curso Baldoso, mas o que me alegrou mesmo foi ter a instrução aqui na Represa Guarapiranga!! Isso mesmo em uma represa, eu moro a uns 40min dela e não acreditei que era possível velejar. Foi um tremendo equívoco! Cheguei lá e fui recebido pelo Alexandre Dangas de uma simpatia sem igual com o +Bakanna e foi surpreendente olhar pra represa naquele final de semana e ver vários veleiros. Muito bom!

E mais bom ainda foi poder velejar junto, a princípio pensei que não era possível conduzir o veleiro apenas com duas pessoas e saímos da marina até sem motor, fomos no pano mesmo! O Alexandre passava uma segurança que foi essencial pra mim, tive a liberdade de conduzir a embarcação com muita confiança, ele tirou todas as minha dúvidas! Um grande velejador. Sou muito grato por isso. Já nos primeiros dias já sabia fazer muita coisa. Não sei se fui um excelente aluno mas acho que deu pra passar pra outra fase! Já penso em breve fazer o intermediário haha. Enfim, foi muito boa a experiência e acreditem velejar na Guarapiranga é tão bom quanto no mar".

E ai, está esperando o quê? Venha velejar com a gente! A próxima turma na represa começa dia 17/10/2015!

E vamos no pano mesmo!

Galeria:

(c) Ricardo Stavale - Veleu,  amigo!!!