quarta-feira, 14 de março de 2018

Ano novo, vida nova!

Boas!


Eu ainda estou um tanto perdido no espaço e no tempo, confesso.

Enquanto todos a minha volta viveram janeiro e fevereiro em terra, para mim esses meses tiveram outra dimensão, imerso em um deserto azul e sem saber praticamente nada do mundo. Na prática, 2018, para mim, começou em março. Então, ano novo, vida nova!

Voltei a trabalhar e a enfrentar uma pilha de problemas e uma outra pilha de boletos. Três meses de contas para pagar e três meses sem receita alguma. Divertido e emocionante - quase mais do que cruzar o Atlântico!

A Cusco Baldoso voltou às aulas. Eu e o Alan estamos na ativa. O Spinelli volta em abril. Hoje ele ainda está em Santa Helena, curtindo a vida adoidado. Teve até mergulho com tubarão baleia! A viagem dele está sendo completamente diferente da nossa. Sol, calor, mar sempre baixo e ventos favoráveis.  Ele merecia um refresco depois de tanto sufoco na ida.


No último final de semana o nosso novo barco escola, o +Bakanna, um Fast 230, fez sua estreia. Na turma tivemos o Guerra, o  Andre e o Raphael. Os três foram tão bem que até me esqueci que estava ali a trabalho. Bordos, jaibes, rizo de vela mestra, capa, homem ao mar, ancoragem, montagem e desmontagem do barco e o bordo em solitário. Que turminha legal. Foi a melhor do ano, comigo! O Alan viveu momentos semelhantes a bordo do Meltemi, com o José Manuel, sua esposa e o Thiago. Houve até um momento match race - o pouco vento favoreceu o +Bakanna.


A partir de abril desse ano nossos alunos poderão locar um outro Fast 230, o Grandpa, para treinar aquilo que foi aprendido no curso. Esse barco estará disponível aos sábados, domingos e feriados e o custo da locação, que já é baixo, pode ser dividido entre os tripulantes. O Fast 230 é o barco ideal para iniciar na vela e para as condições de vento e mar da baia de Santos. Leve, seguro, versátil, marinheiro e sensível às regulagens.



Algumas coisas mudaram na organização do curso básico. Uma delas é que não usamos mais a base Santos. Agora estamos apenas em Guarujá, a partir da Marina Boreal (Meltemi) e Supmar (+Bakanna e Grandpa). Em Ubatuba continuamos com o Soneca no Saco da Ribeira.


Atendendo a muitos pedidos nosso curso básico agora é feito em um final de semana. Para que isso acontecesse sem que houvesse perda de qualidade intensificamos o estudo prévio, antes do curso (à distância) e ampliamos o horário de aulas durante o dia. Cumprimos o programa do curso, como antes, mas de um forma mais amigável à agenda de nossos alunos, que não precisam mais se deslocar dois finais de semana seguidos para Guarujá ou perder a sexta-feira de trabalho, no caso de Ubatuba.



O curso intermediário também mudou. Além de navegação, abordaremos nele a teoria geral do velame, com foco na regulagem de velas.


O avançado também está de cara nova. Faremos em um final de semana, com navegação oceânica de verdade, afastando cem milhas (no mínimo) da costa. Horizonte 360º!

Nossos explores - navegação de sete dias -, nossas travessias especiais e os passeios de um dia continuam como antes. Com a gente só não veleja quem não quer!



Mas não é só. No dia 24 de março, sábado, a convite dos velejadores do Interior de São Paulo (ABVC Interior), eu irei participar de um bate papo sobre o Desafio Africa do Sul 2018 - Cusco Baldoso - Soneca. Esse evento será no Pier São Francisco, na represa de Itupararanga, região de Sorocaba. Estão todos convidados. Mais informações pelo Whatsapp: 13 9 9790 8175.

E vamos no pano mesmo!

quarta-feira, 7 de março de 2018

Sobre o naufrágio do Crapun...

Boas,

Ontem o velejador italiano radicado no Brasil Elio Somaschini, o Crapun, perdeu seu barco (de mesmo nome) ao entrar na barra de Aracaju. As informações de fonte direta ainda são poucas e desencontradas. Ao que parece, ele decidiu entrar na cidade para jantar e comemorar seu aniversário. O barco bateu em um banco de areia, fez água e ele não teve alternativa a não ser abandonar a embarcação e nadar até a praia - onde, felizmente, chegou ileso. Somaschini velejava em solitário e se deixava ao seu novo projeto, fazer a Passagem Noroeste (uma volta pelas Américas passando pelas águas do ártico).

A Passagem de Noroeste: do estreito de Davis até Estreito de Bering, pelas águas do Ártico.
Esse fato me fez lembrar de outra história e de como, nesse mundo da vela, estamos todos de certa forma interligados. Eu já escrevi aqui no blog sobre o Vento Real, veleiro que me levou até Fernando de Noronha na Refeno 2014 graças à intervenção de última hora do Alan Trimboli (que foi comigo, também, para Cape Town). Eu iria participar no Caulimaran, mas esse barco não conseguiu sair de Salvador a tempo pois encontrou uma rede de pesca pelo caminho e desistiu da Refeno, a menos de uma semana da largada. O Alan conseguiu me encaixar na tripulação do Sergio Almerindo, mas antes teve que esperar ele sair de... Aracaju, justamente onde o Crapun naufragou.

Sergio Almerindo e Alan Trimboli.
O Sergio construiu o Vento Real, um MC 31 (Cabinho) ao longo de nove anos, em Guarujá. O veleiro molhou a quilha pela primeira vez em junho ou julho de 2014 e, poucos dias depois, já saiu com seu capitão (em solitário) de Santos até Recife. Participar da Refeno era o sonho do comandante.

Um dia, de madrugada, o Sergio ligou para o Alan perguntando se ele achava que seria possível entrar em Aracaju (uma barra rasa, com vários bancos de areia que têm o péssimo hábito de mudar de lugar). O Alan, ainda sonado, ligou o computador e começou a estudar o local. No Google Earth, ele viu um navio lá dentro. Foi a deixa. "- Sergio, tem um navio lá dentro. Então, dá para entrar sim". Na sequência, emendou: "- Mas é de noite, você não conhece o local, melhor esperar o dia e..." E é claro que o Sergio ignorou essa segunda parte da conversa.

Sem enxergar quase nada o Vento Real entrou em Aracaju, em uma noite sem lua. Guiou-se pelo GPS, pelas luzes da cidade e pelo que achou que seria o canal de navegação. Aquela história: sem saber que era impossível, foi lá e fez. 

No dia seguinte, ao acordar e ver a barra, não acreditou onde tinha entrado. Esse espanto foi compartilhado pelos locais, boquiabertos. O comandante do Vento Real coçou a cabeça e pensou, "- Como vou sair daqui". Essa pergunta ganhou contornos mais dramáticos quando ele soube que o tal do navio que está por lá entrou na barra há muitos anos, muitos mesmo, mas nunca conseguiu sair... Mas o Vento real conseguiu. Saiu. Seguiu o tracking de entrada, engoliu em seco as ondas que estouravam no convés e agradeceu pelo motor não ter falhado. O experiente velejador Sergio Chagas, disse ao Almerindo já em Noronha: "- Eu moro em Aracaju, mas não entro de veleiro lá".

O Vento Real a caminho de Noronha.
Fica, ai, a ironia típica do mar em histórias que se cruzam: um velejador novato, entrou na barra impossível, numa noite sem lua e saiu de lá ileso para contar essa história; já o Crapun, tão experiente, não teve a mesma sorte. E eis a palavra chave: sorte. No mar ela ajuda, muito. Mas não dá para contar com ela. Nas redes sociais e nos grupos de Whatsapp (as novas varandas de iate clube) todos comentam e recomentam sobre o ocorrido. Cada um tem uma opinião e uma solução póstuma. O importante, agora e porém, não é dizer ao Elio o que ele deveria ter feito, nem elucubrar sobre o imponderável. Mas, sim, o que podemos fazer para ajudá-lo.Já!

O Adriano Plotzki, do canal #SAL, iniciou uma Vakinha para angariar recursos para que o Elio se refaça do susto e do prejuízo. Para doar basta acessar o link a seguir:  https://www.vakinha.com.br/vaquinha/naufragio-do-crapun-ajuda-a-elio-somaschini?contributors_page=2

Vamos ajudar?

E vamos no pano mesmo.